terça-feira, 14 de dezembro de 2010

‘WIKILEAKS’ REVELA: SERRA, TUCANOS, DEMOS, MÍDIA QUERIAM ENTREGAR PRÉ-SAL PARA AMERICANOS



[OBS DESTE BLOG: O ‘Wikileaks’ liberou cerca de 3.000 documentos sobre o Brasil. Entretanto, ocorre a “filtragem” desses memorandos pelos jornais ‘Globo’ e ‘Folha’, que receberam (compraram?) formalmente, com exclusividade, todos os documentos do ‘Wikileaks’ e o direito de “julgar” o que pode ser publicado sobre o Brasil até pelo próprio ‘Wikileaks’. Por isso, pela tradição desses dois jornais demotucanos, além de imaginarmos o que está sendo censurado, sabemos que o pouco que aqui tem sido publicado contém agenda oculta da direita. 


No caso abordado no texto a seguir, constata-se o que já era percebido por muitos desde os tempos FHC: os demotucanos, Serra incluído, e a 'grande' mídia brasileira são antinacionais e defendem prioritariamente os interesses das grandes corporações e governos estrangeiros (EUA principalmente). 

Contudo, uma das agendas ocultas da aparentemente ilógica publicação pelos jornais tucanos 'Folha' e 'O Globo' dessas revelações do "weakleaks' contra José Serra deve ser a sua desconstrução, pois ele tinha compromisso com a direita estrangeira e nacional, mas se mostrou 'canoa furada'. A ação da 'Folha' é a preparação do caminho presidencial para outro tucano substituto, já eleito pela mídia direitista, Aécio Neves. Essa linha da 'imprensa será trilhada daqui para frente, sutil e continuamente].

Vejamos o seguinte texto publicado por Altamiro Borges:

“Os documentos vazados pelo sítio WikiLeaks continuam desmascarando muito gente pelo mundo a fora. No Brasil, só foram divulgados menos de dez dos quase 3 mil memorandos da embaixada e consulados dos EUA no país.

“Eles já causaram constrangimento a Nelson Jobim – que foi ministro de FHC, ministro de Lula e deverá continuar ministro no governo Dilma Rousseff. Em vários papéis, ele aparece prestando serviços ao império, inclusive com críticas ao Itamaraty e à política externa altiva do atual governo.

Agora surgem documentos que comprovam que José Serra mentiu na eleição presidencial. O tucano garantiu que não privatizaria o pré-sal e jurou defender a Petrobras. Mas os memorandos do serviço diplomático dos EUA mostram que o candidato se reuniu com as multinacionais do petróleo e prometeu rever o modelo de exploração do pré-sal.

A reportagem da Folha de S.Paulo de hoje, reproduzida abaixo, é bombástica. Confirma o entreguismo dos demotucanos:

PETROLEIRAS FORAM CONTRA NOVAS REGRAS PARA PRÉ-SAL

“Segundo telegrama do WikiLeaks, Serra prometeu alterar regras caso vencesse. Assessor do tucano na campanha confirma que candidato era contrário à mudança do marco regulatório do petróleo.

Juliana Rocha, de Brasília, e Catia Seabra, de São Paulo

As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.

É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA, de dezembro de 2009, obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.

“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.

Um dos responsáveis pelo programa de governo de Serra, o economista Geraldo Biasoto confirmou que a proposta do PSDB previa a reedição do modelo passado.

“O modelo atual impõe muita responsabilidade e risco à Petrobras”, disse Biasoto, responsável pela área de energia do programa. “Havia muito ceticismo quanto à possibilidade de o pré-sal ter exploração razoável com a mudança de marcos regulatórios que foi realizada.”

Segundo Biasoto, essa era a opinião de Serra e foi exposta a empresas do setor em diferentes reuniões, sendo uma delas apenas com representantes de petroleiras estrangeiras. Ele diz que Serra não participou dessa reunião, ocorrida em julho deste ano. “Mas é possível que ele tenha participado de outras reuniões com o setor”, disse.

SENSO DE URGÊNCIA

O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro.

O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem “senso de urgência”. Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: “Vocês vão e voltam”.

A executiva da Chevron relatou a conversa ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio.

A mudança que desagradou às petroleiras foi aprovada pelo governo na Câmara no começo deste mês.

Desde 1997, quando acabou o monopólio da Petrobras, a exploração de campos petrolíferos obedeceu a um modelo de concessão.

Nesse caso, a empresa vencedora da licitação ficava dona do petróleo a ser explorado -pagando royalties ao governo por isso.

Com a descoberta dos campos gigantes na camada do pré-sal, o governo mudou a proposta. Eles serão licitados por meio de partilha.

Assim, o vencedor terá de obrigatoriamente partilhar o petróleo encontrado com a União, e a Petrobras ganhou duas vantagens: será a operadora exclusiva dos campos e terá, no mínimo, 30% de participação nos consórcios com as outras empresas.

A Folha teve acesso a seis telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo, obtidos pelo WikiLeaks.

Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como “operadora-chefe” também é relatado com preocupação.

O consulado também avaliava, em 15 de abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam “turbinar” a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil.

O consulado cita que o Brasil se tornará um “player” importante no mercado de energia internacional.

Em outro telegrama, de 27 de agosto de 2009, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque “o PMDB precisa de uma companhia”.

Texto de 30 de junho de 2008 diz que a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA causou reação nacionalista. A frota é destinada a agir no Atlântico Sul, área de influência brasileira.”

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

FORA, POVO!



Por Luis Fernando Veríssimo

“Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante e inteligente que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos tempos, pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora este tenha sido até modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras virtudes, a elite brasileira é mais bem vestida do que as classes inferiores, tem melhor gosto e melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais e é incomparavelmente mais saudável. E que dentes!

A pesquisa reforça uma tese que defendo há anos, segundo a qual o Brasil, para dar certo, precisa trocar de povo. Esse que está aí é de péssima qualidade. Não sei qual seria a solução. Talvez alguma forma de terceirização, substituindo-se o que existe por algo mais escandinavo. As campanhas assistencialistas que tentam melhorar a qualidade do povo atual só a pioram, pois, se por um lado não ajudam muito, pelo outro o encorajam a continuar existindo. E pior, se multiplicando. Do que adianta botar comida no prato do povo e não ensinar a correta colocação dos talheres, ou a escolha de tópicos interessantes para comentar durante a refeição? Tente levar o povo a um restaurante da moda e prepare-se para um vexame. O povo brasileiro só envergonha a sua elite.

Se não tivéssemos um povo tão inferior, nossos índices sociais e de desenvolvimento seriam outros. Estaríamos no Primeiro Mundo em vez de empatados com Botsuana. São, sabidamente, as estatísticas de subemprego, subabitação e outros maus hábitos do povo que nos fazem passar vergonha.

Que contraste com a elite. Jamais se verá alguém da elite brigando e fazendo um papelão numa fila do SUS como o povo, por exemplo. Mas o que fazer? Elegância e discrição não se ensina. Classe você tem ou não tem. Mas o contraste é chocante, mesmo assim. Esse povo, decididamente, não serve.

Se ao menos as bolsas-família fossem Vuitton…”

sábado, 4 de dezembro de 2010

A MENTIRA


Acredito que atribuir a responsabilidade pelas mazelas da violência a meia dúzia de jovens marginalizados (transformados em feras) que estão nas favelas do Rio de Janeiro é uma grande mentira que, quando reiteradamente repetida, pode se tornar uma falsa verdade.
A sociedade que se queixa da violência é a mesma que nada cobrou quanto a investimentos e políticas públicas para educação, cultura, habitação digna, saúde e lazer durante os 111 anos da República no Brasil.
Mas propagar a formação do “Ministério da Segurança Pública”, como ocorreu na última campanha presidencial, tornou-se prioridade para muita gente, que acredita ser o único caminho para combater a violência.
A FORÇA
A solução do problema não está no uso desmedido da força, com ocupações policiais e operações militares de guerra. Vivemos num país riquíssimo em tudo, mas paupérrimo em desenvolvimento humano e social, o que se constitui numa contradição.
Por que os mesmos que pedem o uso das forças militares não exigem também o melhor emprego do orçamento público em ações sociais para todos (não apenas para os ricos e a classe média), que possam, de fato, transformar o ser humano?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A gafe

 por Luiz Fernando Verissimo -


 Estranho, muito estranho. Mesmo que não esperassem uma reação tão dura, o que o "tráfico" do Rio tinha a ganhar com os atentados que desencadearam a repressão inédita?
Protesto contra a ação das UPPs nos morros ou simples e bravateira demonstração de força — nada disso esconde que o que fizeram foi ruim para eles e pior para os seus negócios. Se o que queriam era justamente levar a afronta a um ponto que forçasse uma reação na mesma medida, o mistério aumenta. Pra quê?
As teorias conspiratórias têm sempre uma fraqueza: pressupõem uma inteligência ou um poder de dissimulação irreal dos conspiradores. Qualquer conjetura sobre o que está por trás dessa guerra, ou sobre a quem aproveita o seu acirramento, acaba sendo uma especulação sobre o improvável, quando não uma fantasia. Mas o fato é que ela desafia muitas lógicas, a começar pela lógica básica do capitalismo que é a primazia do lucro em qualquer circunstância.
O crime organizado não parece tão organizado assim, se é responsável por tamanha gafe em termos de relações públicas. Acima dos estragos que está causando na vida de tanta gente, a guerra está abalando o mercado. Lucros cessantes é o maior terror de qualquer empreendimento.
Pode-se imaginar que os lucros do "tráfico", pelo menos por um tempo, cessarão ou diminuirão. A droga sendo apreendida nos morros é principalmente maconha, que segundo alguns nem droga é. Pode-se supor que o comércio de maconha seja a principal atividade desse exército maltrapilho e bem armado, hoje acuado, que vende para a sua própria classe, e que cocaína e etc. circulem em outros esquemas, mais sofisticados e discretos. Mas todo o mercado foi afetado pela gafe.
O Brasil, como se sabe, é um país de corruptos sem corruptores. Pelo menos até hoje nenhuma grande empreiteira ou coisa parecida teve que responder por atos de corrupção em que participou como compradora de favores.
O mercado de drogas é parecido, um estranho, muito estranho, mercado só de fornecedores. Dos consumidores nunca se ouve falar. Mas, presumivelmente, eles também sofrerão com a gafe. Pelo menos por um tempo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Conta dos Erros das Elites Sobra Sempre Para os Menos Favorecidos.

Desde que o mundo é mundo é assim, e o ciclo se repete agora na Europa;
Não é por acaso que na Europa  as populações protestam através de  passeatas, greves e confrontos com a polícia. Em Portugal, França, Inglaterra, Grécia, Irlanda e outros países sucedem-se manifestações cada vez menos pacíficas  contra os governos respectivos, elevando a temperatura em suas capitais e principais cidades. O cidadão comum europeu, com os estudantes à frente, protesta contra a adoção das milenares receitas para enfrentar crises econômicas:  redução de salários, demissões de funcionários públicos, enxugamento das empresas privadas,  também com dispensa de trabalhadores, aumento de impostos e supressão de direitos sociais.
Tem sido assim desde que o mundo é mundo: a conta dos erros,  excessos e incompetência das elites vai para os menos favorecidos, incluindo-se  a classe média  no rol. Mesmo variadas, as causas da crise debitam-se em especial à especulação financeira,  à ganância e à irresponsabilidade  dos grupos econômicos,  em geral artífices, formadores e integrantes  dos governos.
Desta vez generaliza-se  a reação dos oprimidos. Nada que possa redundar em revolução  ou impasses institucionais profundos, mas, com toda certeza, movimentos capazes de alterar o equilíbrio político-partidário vigente na maioria dos países referidos.  Basta esperar as próximas e sucessivas eleições para constatar que o conservadorismo estará saindo pelo ralo. Em termos democráticos, é a melhor solução, caso haja tempo para a extinção por via pacífica  da farsa das elites.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

8/11/2010 - 17:55h Dormir com a TV ligada pode causar depressão, dizem neurocientistas


DA EFE – FOLHA.COM

Dormir com a televisão ligada pode causar mudanças físicas no cérebro que são associadas à depressão, segundo estudo realizado com hamsters por neurocientistas americanos.
Pela primeira vez fica demonstrado que a luz durante a noite, por mais fraca que seja, produz alterações no hipocampo, uma das principais estruturas do cérebro, que desempenha um papel fundamental nos transtornos depressivos.
O estudo, realizado por pesquisadores da Ohio State University, foi apresentado nesta quarta-feira em San Diego (EUA) na reunião anual da Sociedade para a Neurociência.
“Uma luz branda pela noite é suficiente para provocar um comportamento depressivo nos hamsters, que pode ser explicado pelas mudanças que observamos em seu cérebro após oito semanas”, assinalou a estudante de doutorado Tracy Bedrosian, coautora do estudo.
“Os resultados são significativos porque a luz utilizada não era intensa, e sim equivalente a de uma televisão em um quarto escuro”, diz Randy Nelson, professor de neurociência e psicologia da universidade,
Tracy explicou à Agência Efe que, embora não seja possível garantir que ocorra o mesmo efeito em um ser humano, o impacto da luz não varia em função do tamanho.
“Uma exposição crônica à luz pela noite é um fator relativamente novo na história da humanidade e não é natural, por isso reduzir a iluminação artificial enquanto dorme é conveniente”, acrescentou.

CICLO DE LUZ
O estudo foi realizado com hamsters siberianas sem ovários, para que os hormônios não interferissem nos resultados.
Metade delas foi introduzida em um habitáculo onde foram expostas a um ciclo de 16 horas de luz e oito horas de escuridão total, e a outra metade a 16 horas de luz diurna e oito horas de iluminação tênue.
Após oito semanas nessas condições, as hamsters que dormiram com luz durante a noite mostravam mais sintomas de depressão que as demais.
Os testes são os que as farmacêuticas normalmente fazem para experimentar remédios antidepressivos e contra a ansiedade, e também medem a quantidade de água doce bebida, afirma o estudo.
Normalmente os roedores gostam de beber água, mas os que têm sintomas de depressão não bebem tanto porque, aparentemente, não têm o mesmo prazer nas atividades.
Ao examinar o hipocampo dos hamsters depois do experimento, os cientistas comprovaram que os que dormiram com luz tinham uma densidade menor de espinhos dendríticos, finos prolongamentos das células cerebrais que transmitem mensagens de uma célula a outra.
“O hipocampo desempenha um papel importante na depressão e encontrar mudanças nessa região é significativo”, afirmou Tracy.
No entanto, não foram encontradas diferenças entre os grupos quanto aos níveis de cortisol, hormônio do estresse que normalmente é associado às alterações no hipocampo.
Segundo os cientistas, a explicação mais plausível para as mudanças registradas no cérebro dos hamsters é uma deficiência de melatonina, hormônio que deixa de ser excretado quando há luz.
O próximo passo dos cientistas é analisar o papel do hormônio neste processo.
Os resultados coincidem com estudos anteriores nos quais Nelson e seus colegas descobriram que uma luz intensa constante pela noite está ligada a sintomas depressivos e a um aumento de peso em ratos.

Pastrami



O pastrami é uma preparação que, na essência, não difere muito da carne-de-sol dos nordestinos: a carne é salgada e curada ao ar livre. Um método empregado no passado visando a conservação do alimento. Era assim que romenos e armênios preparavam a pastrma, que, de acordo com a enciclopédia britânica Oxford Companion to Food, deu origem ao pastrami americano. A pastrma era feita com carne de segunda e muito popular entre as famílias pobres do Levante e dos Bálcãs.


O fato é que o pastrami como o conhecemos hoje nasceu de um arroubo de nostalgia dos judeus que imigraram do leste europeu na segunda metade do século 19. Em terras estrangeiras, eles reproduziram as receitas de casa.

O pastrami tradicional das delis nova-iorquinas e ícone da culinária judaica americana  é feito com peito do boi . A carne é primeiro curada na salmoura e esfregada com alho e especiarias, entre elas pimenta-do-reino e coentro em grãos. Depois é defumada. 

O Senador e a Jornalista 10


Santa acordou num quarto escuro e muito equipado. O padre segurava sua mão.
- Onde estou?
- Está segura, minha filha. Agora, o que mais precisa é descansar.
- Quem me trouxe para cá?
- Eu.
- Que lugar é esse?
- Uma clínica.
- O que vim fazer aqui?
- Durma em paz e amanhã conversamos, pode ser?
Mal o padre terminara de falar e Santa já estava de volta em um sono profundo, sedada mais uma vez.
Quando acordou foi informada pelo padre que, a pedido do Senador, da empresa e da mulher do jornalista todos, inclusive ele, acharam melhor tirar o bebê de seu ventre. Santa entrou em choque, estado que durou duas semanas. Durante este período, às vezes tentava chorar, mas as lágrimas não vinham. Foi tomada por um vazio, uma angústia que durou muitos meses. Neste período ficou na sacristia, sob os cuidados do padre, com a anuência do bispo. Afinal, ela só tinha mesmo o pai com quem contar. Aos poucos se recuperou e voltou a trabalhar. Mas a desilusão era tão grande, que não tinha mais vontade de se arrumar. Fora de peso e sempre descuidada foi ficando inviável aparecer na TV. Um dia o chefe a chamou e ofereceu uma vaga de editora de texto. Indiferente, Santa aceitou. Depois de um tempo arrumaram para ela um cargo de chefia sem grandes responsabilidades. Da única vez em que reencontrou o Senador, nos corredores da emissora, cuspiu-lhe na cara e chamou-o de porco. Ele fez como se não fosse com ele e seguiu em frente. Santa adotou seu segundo nome, Maria. Nunca mais ficou sem antidepressivos e remédios para dormir. Tem uma boneca, presente de Su, que cuida como fosse seu bebê. (não continua)

Por Marco Aurélio Mello

O Senador e a Jornalista 9


Santa contornou o Parque da Cidade a pé e seguiu em direção à W3 Sul. Queria encontrar a pequena igreja que tinha visto por ali. Se não estivesse enganada era na quadra 103. Atormentada, lembrou-se da devoção e religiosidade da avó. Foi quando as lágrimas começaram a descer. Entrou e foi direto ao confessionário. Em poucos minutos ouviu alguém cerrar a porta e desatou a falar. Contou da infância, das angústias, da falta do pai e da mãe. Falou da tia e da avó. Desabafou sobre a vida no Rio e tudo o que de errado fez. Não se sentia culpada, mas carregava um peso, algo do qual precisava se livrar, antes de ser mãe. O padre ouvia com atenção. Santa descreveu também como foi a chegada em Brasília e o romance com o Senador. Descreveu ainda o trabalho e ressaltou o carinho que cultivava pelo colega que estava agora num leito de UTI. Foi quando o padre, com forte sotaque italiano, disse:
- Posso ajudar você a dar um tempo daqui. Tenho algumas economias e posso levá-la para um lugar tranquilo, para que tenha seu bebê.
Achou aquela oferta curiosa e resolveu que ia pensar. Agradeceu, fez o sinal da cruz e saiu. Apanhou o primeiro táxi e seguiu para o hotel. Chegando lá recebeu a notícia de que dois homens haviam procurado por ela. Eram enviados do Senador, concluiu. Sobressaltada pensou que de protegida pudesse estar sendo perseguida.
- Eles disseram se iriam voltar?
- Sim, dentro de uma hora.
Santa tinha que correr. Subiu, pegou a mochila, colocou o que coube dentro e saiu apressada. Quando chegou de volta à igreja o padre não estava. Ficou desesperada, sem saber para onde ir. Foi quando uma mão grande veio por trás e colocou um lenço tapando sua boca e o nariz.
(continua)

O Senador e a Jornalista 8


- Alô.
- Sabe aquele jornalista que você me falou que estava saindo com a Santa às vezes?
- Sei.
- Vai lá e faça o serviço.
- Dá um susto ou apaga, chefe?
- Dá uma boa surra nele. Depois diga a ele que vai ser papai.
- Como sabe se é ele?
- Meu não pode ser, porque sou vasectomizado. Se a única pessoa com quem ela sai é ele, então é ele, oras.
- Mas não posso garantir que só saia com ele, chefe.
- Faça o serviço.
- Ok.
(...)
- Olá, trabalho com seu marido.
- Oi, já te vi na TV.
- Como ele está?
- O quadro é estável mais vai ficar em observação na UTI.
- Quando ele melhorar, diga que estive aqui.
- Digo sim, muito obrigada.
- Até logo.
(...)
- Alô.
- Su, encrencas.
- O que foi desta vez?
- Acho que o Senador desconfia que eu saía com o Ícaro.
- Por quê?
- Ele foi espancado por dois homens que disseram que a surra era presente para o futuro papai.
- Mas você não estava grávida do Senador?
- Não, Su, ele operou faz tempo e não pode mais ter filhos.
- Isso você não me contou. Quer dizer então que o pai...
- Hum-hum.
- Cara, você está mais enroscada do que eu pensava.
- Não sei o que fazer...
- Nem eu.
(continua)

por Marco Aurelio Mello

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Senador e a Jornalista 7


- O que você acha que eu devo fazer?
- Se livrar do bebê, oras.
- Mas eu não quero.
- Santa, não seja boba menina, uma gravidez agora vai atrapalhar sua vida.
- Não se eu assumir sozinha.
- E você acha que o Senador vai querer?
- Sei lá, só vou saber depois de falar para ele.
- Eu acho uma fria. Você está começando uma carreira nova, não tem ninguém aí para te ajudar, vai carregar uma barriga nove meses, vai precisar de pelo menos mais dois anos até a criança não precisar tanto de você... Pense bem Santa.
- Vou conversar com ele primeiro.
- Faça o que achar melhor e, qualquer coisa, me liga.
- Ok, obrigada amiga.
- Se cuida.
(...)
- Alô.
- Quem te liga sou eu, lembra?
- Só estou ligando porque preciso muito falar com você.
- Conversamos na quinta, oras.
- Não vou conseguir esperar.
- Está bem.
- Pegue um táxi e vá para a casa do Lago. Te encontro lá às 18h.
- Ok.
(...)
- E, então?
- Estou grávida.
- Como assim?
- Estou grávida.
- E o que vai fazer?
- Vou ter o nenêm.
- O quê?
- Quero esse bebê.
- Você deve estar brincando...
- Não, estou decidida.
- Acho loucura. Você não vai poder contar comigo. Se alguém souber...
- Sabia, sabia, como sempre está só pensando em você.
- Veja bem, Santa, isso é uma loucura.
- Não faz mal. Não preciso de você!
- Pense mais um pouco, deixe as coisas ficarem mais calmas primeiro aí você decide...
- Já decidi.
- Bom, neste caso, acabou para mim.
- Você é quem sabe.
(continua)


Por Marco Aurelio Mello

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Senador e a Jornalista 6


- Su, é a Santa.
- Menina, tá viva?
- Sim, estou aqui em Brasília.
- Já faz tempo, heim?
- Oito meses.
- E o trabalho?
- É duro. Começo bem cedo, faço uma entrada ao vivo para o telejornal da manhã, gravo dois flashs para a programação local e faço uma reportagem para o telejornal da hora do almoço. Às vezes passo das duas, quando tenho que deixar alguma coisa gravada. E, uma vez por semana, gravo no estúdio para um programa da TV a cabo.
- Nossa, quanta coisa....
- É uma exploração o que eles fazem com a gente aqui. Você acredita que o meu salário é o piso de jornalista?
- Verdade?
- E se não quiser, tem fila para ficar com a vaga.
- Covardes, não?
- Nem me fale...
- E o bofe?
- Já estou cansada dele, mas liga duas vezes por semana e toda quinta-feira à noite nos encontramos.
- E o que faz nos fins de semana?
- Às vezes saio com uma colega, mas a cidade é muito chata. E você, Su?
- Na mesma. De casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Faço meus shows no fim de semana e quando meu negrão quer passo a noite com ele.
- Su, preciso te contar uma coisa.
- É? Diga.
- Acho que estou grávida.
(continua)

Por Marco Aurélio Mello

O Senador e a Jornalista 5


Com indicação do Senador a vaga apareceu fácil na emissora. A jovem jornalista era bonita, tinha voz boa e sabia bem como se comportar. Mas tinha muita dificuldade em juntar as partes de uma reportagem de TV. Contou com a ajuda sempre prestativa do chefe de reportagem da tarde que, depois do expediente, ía para a ilha de edição com ela, mostrava os trechos mais importantes das entrevistas e dava idéias de como fazer para amarrar o texto. E, claro, sempre que tinha chance, passava uma cantada na garota. Ela gostava de tudo, inclusive dos galanteios do experiente jornalista, casado e pai de duas lindas filhas já adultas. Numa noite, num bar, achou que podia levar aquela história adiante, só para experimentar. Dali em diante passaram a se curtir de vez em quando.
- Como vai o trabalho? Perguntou o Senador.
- Vai bem, meu amor. Acho que estou evoluindo. O Ícaro, chefe de reportagem, é um sujeito muito legal. Faz tudo o que está ao seu alcance para ajudar.
- Ah, que ótimo, respodeu o Senador, meio desinteressado.
- O que vamos fazer?
- O de sempre, oras.
- Então tá.
Os dois seguiram no carro de vidros escuros até a mansão mobiliada à venda no Lago Norte, onde estavam acostumados a se encontrar. Era sempre a mesma coisa. Ela apanhava um táxi na porta do hotel, seguia para a Asa Norte e, no ponto pré-determinando, esperava discretamente o carro dele chegar. Sempre tinha uma mochila grande com fantasias (enfermeira, coelhinha, can-can...), maquiagem, cremes e uma troca de roupa, para o caso de numa emergência o pessoal da TV chamar. Os encontros duravam algumas horas. Champagne francês nunca faltou e quase sempre os dois recebiam comida de algum restaurante, pizzaria ou lanchonete que mandavam entregar. Depois de tudo, ele sempre a deixava num posto de gasolina onde ela pegava outro táxi para voltar ao hotel. (continua)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

É

A Folha de S.Paulo, Mayara Petruso e a tentativa de justificar o injustificável

Na última sexta feira, a Folha de S.Paulo publicou na página de debates um artigo intitulado “Em defesa da estudante Mayara”. Para quem não lembra, Mayara Petruso é a estudante que iniciou a onda de comentários preconceituosos (e violentos) contra nordestinos no Twitter, após a vitória de Dilma Roussef.
A autora do artigo é Janaina Conceição Paschoal, advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ela defende que Mayara “é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal”. E complementa:
É o nosso presidente quem faz questão de separar o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos. Infelizmente, é o líder máximo da nação que continua utilizando o factoide elite, devendo-se destacar que faz parte da estigmatizada elite apenas quem está contra o governo.
Como não poderia deixar de ser, o artigo gerou críticas dos leitores que consideraram absurdo relevar as declarações de Mayara.
O Nassif publicou uma crítica esquematizada ao artigo, reproduzimos abaixo.
O artigo na Folha, de Janaina Conceição Paschoal – professora do Largo Sâo Francisco -, é tão primário, que dele é possível extrair algumas lições bem básicas sobre a miséria da retórica.
1. Para reforçar seu argumento mostre-se como parte não interessada na história.
É comum entre trolls da Internet. O sujeito entra, se diz petista e senta a pua na Dilma. Ou então apresenta-se como tucano e critica Serra. Janaína se apresenta no comentário da Folha como neta de pernambucanos para validar sua crítica aos nordestinos “anti-paulistas”. Depois, apresenta-se como não-católica, em um comentário em outro blog no qual defende os panfletos do padre Luizinho. Para assassinar princípios básicos de direito, nada como se apresentar como professora da matéria. Mas que depõe contra a reputação de excelência do Largo São Francisco, não há como deixar de depor.

2. O uso da carteirada acadêmica.
Consiste em se apresentar como professora de uma instituição respeitada para tentar dar respaldo acadêmico a afirmações banais ou partidárias. É o caso dela e do pequeno Carlos Guilherme Motta, que usa o nome da USP em seus bestialógicos.
3. O álibi científico para legitimar opiniões leigas.
No besteirol que postou sobre os panfletos do padre, ela se dizia titular de uma cadeira que estudava a matéria, onde concluímos (uso do plural majestático)  que a Igreja Católica sempre foi perseguida. Apesar de ela não ser católica, é claro.

4. O uso do plural, para simular estar falando em nome de um grupo, não dela própria.

Isso é tique do Largo São Francisco. Lembro-me de uma polêmica antiga com o professor Fábio Comparato, na qual o professor Goffredo da Silva Telles enviou uma carta para o Painel da Folha, dizendo que os MEUS leitores não ME  mereciam. Sem um centésimo da envergadura do professor Goffredo, Janaína usa o plural majestático para dizer que “nós” – dando a impressão de ser ela e um conciliábulo de sábios-  concluímos… uma bobagem qualquer.

O Senador e a Jornalista 4

O Senador e a Jornalista 4

- Vamos pela orla, respondeu Santa.
Enquanto o carro seguia veloz, a jovem jornalista fazia planos. Faria carreira de repórter de política em Brasília. Se tudo desse certo poderia até se casar. O Senador seria apenas a ponte para um caminho seguro. Rico e maduro, não daria um pingo de trabalho, desde que ela soubesse como levar. Mas teria que ser bastante cuidadosa, para ninguém desconfiar. Em Brasília? Difícil...
- Boa tarde.
- Tenho uma reserva.
- Preencha esta ficha, por favor.
- Claro.
- Aqui estão as chaves. O apartamento é o 1202.
- Obrigada.
O hotel era no Plano Piloto. Da varanda avistava-se a Esplanada dos Ministérios e lá no final o Congresso Nacional. A emissora era próxima. Durante algum tempo era ali que ela iria morar.
- Alô.
- Fez boa viagem, meu bem?
- Oi meu amor, fiz sim. Quando vamos nos ver.
- Na quinta-feira combinamos como fazer.
- E até lá eu faço o quê?
- Alugue um carro, passeie, vá às compras. Aproveite! Você ainda está com aquele cartão de crédito que deixei com você?
- Sim.
- Então agora ele é todo seu, pode gastar.
- É mesmo?
- É mesmo. (continua)


por Marc Aurélio Mello

O Senador e a Jornalista 3


- Su?
- Sim.
- Estou indo para Brasília.
- É mesmo?
- É. Vou a convite do Senador.
- Juuuuuuuura!
- Ele mandou passagem e disse que vai arrumar um emprego para mim como repórter de TV.
- Cuide-se menina e qualquer coisa que precisar é só ligar.
- Um beijo minha amiga. Você mora no meu coração.
- Você também.
Su desligou o telefone e pôs-se a lembrar. Santa estava na pior quando se conheceram. Sem mais nem menos, o dinheiro que o prefeito mandava minguou. E voltar para o norte de Minas nem pensar. Para pagar faculdade e todas as despesas no Rio, só mesmo "usando o diploma que Deus deu". A boate em Copacabana era ponto de encontro de drag queens e garotas de programa. Santa era uma unanimidade, principalmente entre os fuzileiros navais, que vinham de intercâmbio. Santa também frequentava os booksdos principais hotéis da zona Sul. E, sempre que convidavam, figurava num programa de humor.
- À beira-mar ou pelo Túnel Rebouças? Perguntou o taxista. (continua)
por Marco Aurélio Mello

O “até logo” de Serra

Alguns se surpreenderam, os íntimos não tinham a menor dúvida: Serra não “desapareceria”. Tem três metas-possibilidades: prefeitura de São Paulo-governo do estado-presidência. Já fez isso antes, se elegeu prefeito garantindo, “vou ficar até o fim do mandato”, ficou 15 meses, se elegeu governador, também não completou.
Tem conversado, sabe até que para a Prefeitura enfrentará Dona Marta, do PT. Com a arrogância e a suficiência habitual, diz: “Dessa eu ganho, já ganhei”. Não terá problemas de legenda para a Prefeitura. Mas para governador e a possível terceira candidatura a presidente, com 72 anos, dificilmente conquistará o PSDB.

por Helio Fernandes

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Senador e a Jornalista 2



Foi à beira do açude que o pai chamou o filho para conversar. Homem de posses, coronel do sertão alagoano, tinha planos para o rapaz.
- Você vai para a capital estudar.
- Sim senhor, meu pai.
- Quero que volte doutor. Não se preocupe com dinheiro. Do que precisar eu posso pagar.
- Obrigado meu pai. Vou te encher de orgulho. Não vais ter do que reclamar.
- Faço fé no seu futuro, meu filho.
E assim foi. Quando voltou advogado, no primeiro pleito virou vereador. Depois prefeito, deputado estadual e por pouco não concorreu a governador. Mas os planos do partido eram outros e ele foi para Brasília, como deputado federal. A carreira foi rápida. Da formatura como advogado à diplomação na Câmara Federal apenas 10 anos se passaram. Habilidoso, logo pegou gosto pelos negócios da política. Aprendeu a mexer no orçamento da União, a fazer favores para deputados do baixo clero e o melhor, a concentrar poder. Não demorou muito virou líder de bancada, depois de partido e de governo. Com a reeleição, duas vezes, o caminho estava aberto para virar Senador. (continua)
por Marco Aurélio Mello

O Senador e a Jornalista


Foi numa procissão em louvou à padroeira que eles se conheceram. Ela com apenas 14 anos de idade e o missionário, recém chegado da Itália, com 23. Foi um encontro lindo, arrebatador. O padre fora designado para a pequena paróquia do Vale do Jequitinhonha. A garota morava a cerca de 50 km de distância, numa localidade próxima. Não tardou e passaram a manter um romance secreto. A mãe da menina, viúva, beata e ceramista, fazia vistas grossas. Criava a filha caçula e a irmã mais velha, com a ajuda da avó. O marido, caminhoneiro, tinha morrido ao volante, num acidente horroroso. Não passaram muitos meses e a garota engravidou. Assim que a notícia correu, o padre foi transferido para outra diocese bem distante, destino que o bispo se recusava a revelar. A gravidez foi de risco. É como se no ventre a garota fizesse crescer tudo aquilo que quisera ser. No oitavo mês a bolsa estourou. Para não perder o bebê, a menina foi levada até a capital, onde veio a falecer. À pequena sobrevivende, alva e dos olhos bem verdes, deram o nome de Santa. Abençoada, cresceu sob o manto sagrado da igreja. Não havia necessidade da família que o bispo deixasse de atender. Bastava apenas uma solicitação e logo o mensageiro trazia o envelope com o dinheiro do dízimo, desviado para nobres fins. O pacto de silêncio incluia a irmã da morta, a mãe e a avó. Santa cresceu com conforto. Nunca entendeu o papel do bispo, nem nunca teve curiosidade de saber quem era seu pai. A tia virou funcionária pública e durante muitos anos foi confidente fiel e amante do prefeito da localidade. E foi graças a ela que Santa conseguiu prosserguir no Rio os estudos em Comunicação Social. (continua)

Em defesa do diploma

O “seu” Manoel,  dono do açougue ali da esquina,  é um craque na arte de cortar carne.Tira cada filé e cada costela que fazem gosto. Por conta disso deve pendurar  o avental, vestir um jaleco,  entrar no Hospital  Distrital e operar alguém de apendicite? O camelô da estação rodoviária é  um mestre da palavra. Vende tudo o que apresenta em sua bancada, convence todo mundo. Estará autorizado a usar a beca, ingressar no plenário do Supremo Tribunal Federal e defender algum cliente?
Pois é. Por dispor do dom de escrever bem, qualquer cidadão poderá exercer a profissão de jornalista? Torna-se o diploma desnecessário, como nos dois casos anteriores? Será a universidade dispensável para o exercício da medicina e da advocacia?
O dom de escrever faz o escritor, e nenhum deles está proibido de escrever em jornal. Mas deverá fazê-lo como colaborador, não como jornalista.  Porque ser jornalista não é ser melhor nem pior do que  escritor. É apenas  diferente, pelo acúmulo de conhecimentos adquiridos nos cursos de comunicação,  desde saber editar, selecionar, reportar e diagramar até receber conhecimentos de História, Filosofia, Ética, Geografia, Política e quanta coisa a mais?
Outra vez discute-se a necessidade do diploma para jornalistas, ressurgindo a tese  de sua inocuidade. Alguns ingênuos e certos malandros tentam obter da Justiça o reconhecimento de que,  para ser jornalista,  basta a boa vontade. Ou a má. Na realidade,   muitos pretendem evitar o sentimento de classe forjado nos bancos universitários, responsável por evitar que a informação se transforme numa gazua a serviço de interesses variados. Além de dar à categoria força suficiente para reivindicações salariais.
Houve tempo em que para ingressar numa redação bastava ser amigo do dono do jornal ou recomendado por alguém de suas relações. A lealdade do jornalista era para com o patrão, muito mais do que para com  a notícia. Com a exigência do diploma, alterou-se a correlação de forças, precisamente o que muitos pretendem evitar. É claro que existem os bem intencionados adversários do diploma de jornalista, mas é bom prestar atenção. Ou se posicionam, também, contra o diploma de médico e de advogado?
Outro argumento a desfazer é o da precariedade dos cursos de comunicação, muitos deles formando jornalistas que escrevem “sal”  com “ç”. Se  for assim, que se renove o estudo do jornalismo, que se aprimorem as cadeiras e se exija muito mais dos formandos. O mesmo se aplica, por exemplo, aos advogados e à proliferação de cursos de Direito. Vale, nos dois casos, a lei do mercado. Os bons obterão sucesso.
por Carlos Chagas

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